Uma Formiga gigante

- Opinion

Por Filipe Cairrão

“Somos um país pequeno, mas cheio de talento”, disse António Félix da Costa, pouco depois de se tornar o primeiro português Campeão do Mundo FIA de circuitos. O feito de Félix da Costa na Fórmula E e a forma como falou das dificuldades que teve de superar para chegar ao topo do mundo, fizeram-me recuar duas décadas, até aos tempos em que eu via o popular ‘Formiga’ – apelido dado pelo pai de Armando Parente, não só pela estatura física de peso-pluma de Félix da Costa, mas também pelo ‘Ant’ que levava na carenagem.
O ‘Formiga’ saía do kart depois de cada treino ou corrida e ia acompanhar de olhos ‘arregalados’, todas as sessões das outras categorias, fosse uma manga ou uma Final. Como alguém que vivia e respirava karts, característica que normalmente distingue os grandes da modalidade. Félix da Costa viria a ser campeão nacional (duas vezes) e a emigrar para o epicentro do Karting mundial, Itália, primeiro pela mão de Nuno Couceiro e de Danilo Rossi, lenda italiana do Karting mundial e, depois na equipa oficial da TonyKart, onde terminou a sua formação no verdadeiro ‘berço’ das corridas. Tudo isto suportado pelo forte investimento da família na sua carreira, disso não há dúvida. Mas, ontem como hoje, a este nível são precisos muitos ovos para se fazerem omeletes.

Ainda assim, o sucesso de Félix da Costa não é só explicado pela capacidade em pista – é, sobretudo, explicado pela determinação e resiliência fora dela. Porque, tal como Álvaro Parente e Filipe Albuquerque, mais dois dos maiores talentos nacionais que despontaram nas pistas de Karting, Félix da Costa percebeu que há mais mundo além da Fórmula 1. Que ser preterido pela Red Bull em favor de um russo com um saco cheio de euros e milhões de latas de bebida energética não era o fim do mundo. Era apenas mais uma travagem forte e uma curva apertada, da qual era preciso sair com uma trajetória limpa. E foi isso que fez. Foi isso que lhe permitiu ganhar em Macau duas vezes. Foi isso que lhe permitiu ser piloto oficial da BMW, ser piloto oficial da Citroën/DS, ser pago por várias outras equipas de diferentes campeonatos que lhe ligavam sempre que era preciso injetar talento nas suas fileiras, tal como também acontece hoje com Parente e Albuquerque.

Quando finalmente teve um carro competitivo na Fórmula E, Félix da Costa soube ser o homem certo na hora certa. Chegou a admitir que o seu companheiro de equipa, Jean-Éric Vergne, percebia melhor o monolugar da Fórmula E do que ele. Mas isso é só uma parte da equação – é preciso nunca baixar os braços e aproveitar todas as oportunidades que os altos e baixos da vida nos trazem. É por isso que o Formiga é um gigante. E que outros Formigas se agigantem deste berço que é o Karting, de Portugal para o mundo.

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